terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Racismo afinal 3


Segundo o Comando Metropolitano da PSP, "um homem ao volante de um Seat Toledo despistou-se e embateu numa paragem de autocarro localizada no cruzamento da Rua Raul Rego com a Rua João Amaral, tendo abandonado aí o veículo e fugido a pé".

"O embate causou a morte de um homem de 40 anos e ferimentos, que aparentavam ser ligeiros, numa mulher de 50 anos e numa criança com cerca de sete a oito anos", acrescentaram as autoridades.
Pelas descrições facultadas por pessoas que se encontravam no local, a PSP julga saber quem conduzia a viatura no momento do acidente, incidindo as suspeitas num indivíduo já com cadastro.

Lusa

Foi a partir desta notícia da Lusa que abriu o Jornal da Noite da Sic, de hoje.

Poder-se-ia questionar a oportunidade jornalística de abrir um jornal de âmbito nacional com este tipo de notícia, triste, mas decididamente "acanhada" demais para notícia top deste 22 de Dezembro aqui no torrão, mas não vou por aí, até nem sou jornalista...

Para Miguel Guerreiro, o jornalista tristonho que, no local do acidente, fingia estar a fazer um "directo", ridículo, ofegante e em cima do acontecimento, outra notícia havia a dar e repetir: O atropelador, além de ter fugido a pé, era de raça cigana!
Na curta peça a expressão "raça cigana" foi repetida 4 vezes 4 , uma total irrelevância, sem utilidade para a eficácia informativa da notícia , bem como uns laivos de associação de um simples acidente de viação a conflitos étnicos e que, assim, só pode ser encarada como um comentário racista, intencional e inconfessável.
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Assim vão as coisas na república das bananas!

Nota:

Tendo confrontado a SIC com uma reclamação escrita, recebi hoje, 23 de Dezembro uma resposta de que transcrevo o trecho mais significativo:

"A SIC e os seus jornalistas pautam por seguir rigorosos princípios éticos de jornalismo, não se revendo nas acusações de incitamento ao racismo e discriminação... "

Bruno Costa - Assistente de Relações Públicas

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A Conferência de Copenhaga


Dentro de um mês terá acabado a tão esperada e desesperada Conferência de Copenhaga sobre a Mudança Climática e ouvir-se-ão, um pouco por todo o lado e uma vez mais, os discursos dos políticos a falar deste tão importante passo que eles, políticos, acabaram de dar em nosso nome.

Claro que não dirão que foram verbos de encher numa encenação grotesca de encobrir mais um clamoroso fiasco, quiçá a última oportunidade para tentar inverter este aquecimento catastrófico que matará talvez mais de metade da humanidade nos próximos cem anos. Estamos a falar dos nossos filhos e netos!

A Conferência de Copenhaga começará, tecnicamente, no próximo dia 7 de Dezembro, mas já está ferida de morte no seu objectivo fundamental, o único exigível, a limitação obrigatória das emissões de CO2. A decisão foi tomada à revelia da conferência, por quem manda no mundo, na Cimeira da Cooperação Ásia-Pacífico, onde Obama mostrou que, afinal, na terra do dinheiro quem manda é o dinheiro e os interesses do petróleo falaram mais forte: Não haverá compromisso, tudo se saldará por intenções, das boas, das que está o Inferno cheio!

Inferno climático é o que nos espera a todos nós, cidadãos deste planeta que agoniza enquanto os nossos queridos políticos, sejam os eleitos das democracias, sejam os líderes de uma qualquer ditadura, continuarão a dizer que nos representam a nós mas representam de facto outros interesses mais ou menos inconfessáveis.

Cada povo é aquilo que quer e de que é capaz.
Cada povo tem os tiranos e os políticos que merece.
Se não formos capazes de escorraçar a tempo estes nossos “representantes” e tomarmos nas nossas mãos o que é nosso de direito, então não teremos que nos queixar: seremos a carne para o ignóbil canhão! E o tempo esgota-se...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O Condomínio da Terra

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...................................www.condominiodaterra.org


...........O movimento “Condomínio da Terra” http://www.earth-condominium.com/pt/ deu o seu verdadeiro pontapé de saída na cidade de Gaia, nome da deusa Terra, na mitologia grega, dias 4 e 5 de Julho de 2009.

Este projecto conta com os patrocínios da Quercus, Comissão Nacional da UNESCO, Câmara Municipal de Gaia , a AMI e outras entidades públicas e empresas cidadãs que felizmente entenderam a positiva mensagem e acção que esse movimento pretende concretizar: entender a nossa Terra como condomínio global que, à semelhança de qualquer imóvel, tem áreas comuns, de que todos são co-responsáveis pela conservação e preservação.

No caso da Terra: a Atmosfera, a Hidrosfera e a Biodiversidade!
Simples, não? Mas com muito para fazer!

Esta esperança só será concretizável, e é imperativo que o seja rapidamente, com a empenhada e inequívoca participação dos 3 pilares das Nações e Estados do Mundo: Governos, Empresas e Cidadãos!

Vamos a isto: não há tempo para mais delongas…O Planeta Terra assim o exige.

.........Adaptado do editorial do Dr. Fernando Nobre em AMI Notícias, nº48.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Benzòdeus, Deus e Eu

Para mim, à boa maneira helenística, os deuses em geral e Deus em particular são muito mais saborosos se dotados de proverbiais e divinas quantidades de virtudes e defeitos humanos!

O Meu Deus, saiu-me um adepto fervoroso da evolução linguística em geral e das aférese e apócope em particular, fenómenos que tratou de aplicar até ao seu próprio nome.

Dada a Sua infinita grandeza, o resultado de tal experiência tem-me chegado na perfeição!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

ELES MENTEM !

Dantes ouviam-se os políticos para comparar idéias, para escolher soluções.

Hoje, ouvem-se os políticos para tentar descortinar qual o que mente menos, que a mentira é a única constante dos seus discursos eleitorais.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

OS BOYS

Nestas coisas da política e da governação, não sou dado a acreditar em desinteressados altruísmos ou abnegados heróis.

Se, em relação aos líderes, se pode admitir que essa generosidade em chamar a si prematuros cabelos brancos e inenarráveis chatices se pode dever a uma personalidade narcísica e ao ego inchado e vaidoso de poder, já em relação à outra multidão cinzenta que os rodeia e ampara, toda essa gente que nem nunca chegará a "limiano" ou "tino de rans", se levanta uma pergunta terrível, que alguns chamarão pérfida ou cínica, mas que ninguém pode ignorar: - "O que leva alguém a filiar-se num partido de poder?"

Percebo que um honesto e convicto comunista ou um honesto e convicto conservador democrata-cristão, sonhem em viver no país dos seus sonhos e nisso esforçadamente militem. Nestas pontas do “espectro” ainda há ideais, sejam eles revolucionários, ou moralistas, ou conservadores, ou progressistas, mas ideais.

Agora se alguém é um convicto e honesto socialista, irá filiar-se num partido cuja ideia de socialismo é tão, tão estranha, que tendo maioria absoluta, prefere agachar-se diante dos monopólios estratégicos como o da energia, em nome de uma lei de "mercado" que nunca foi sua e que agora descobriu como a Lei das Leis?
Qualquer socialista sabe que os meios estratégicos para o progresso de um país, água, energias, telecomunicações, não podem ser deixados à voragem gananciosa do lucro. Não há pragmatismo camaleónico que mude isto: quem assim o faça, socialista só se for de nome!

No partido alternante de poder, dito social-democrata, também parece que ninguém se importa muito com o que será isso de social-democracia.
Filisteus conservadores e liberais, campeões das privatizações que levam à destruição de tudo o que na área social se conseguiu em trinta anos, em prol do lucro dos grupos económicos. É a antítese do que é a Social-Democracia!
..................................................................Cartoon copiado de "A Tacada do Dia"
E no entanto é vê-los a aderirem, correrem atrás da carroça do poder, que hoje como ontem, escorre prebendas, empregos, contratos, favores e benefícios aos seus boys e guarda pretoriana que, hoje como ontem, depressa fazem agulha à vista de resultados eleitorais, para beberem do que antes abominavam e morderem as canelas, raivosos, aos seus antigos senhores.

Hoje, vai-se para estes partidos do chamado “Centrão” como antes se ia para a Legião Portuguesa! Lembram-se?

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Da Queda dos Impérios

Os impérios têm duas vidas. E logo, duas mortes!

Se nos compêndios virá sempre a data em que algum decreto, batalha ou referendo lhes pôs fim, o certo é que um império cai quando morre no coração daqueles que o viveram e acreditaram.

Tive a raríssima sorte, para mais em tempos difíceis de ditadura, de ter tido uma formação ético-política marcante e fortíssima, logo nos anos do fim da infância e início da adolescência.
Num país cinzento e miserável, encontrei no meu caminho um mentor inesquecível, alguém que acreditou que um puto de 11 ou 12 anos seria capaz de pensar pela sua cabeça: O Padre José da Felicidade Alves, pároco da minha freguesia, Santa Maria de Belém.
. Há gente assim, que nos forma e marca de tal maneira, que nos ensina a ser e a pensar, que é como se fôramos seus filhos: no meu caso foi o padre Felicidade e, anos mais tarde, o saudosíssimo professor de Filosofia do Liceu D.João de Castro, o Dr. Rôxo.

Em 1967-68 eu era convictamente comunista! Conhecia outros miúdos como eu que tinham sonhos românticos e heróicos com maoísmos, trotzkismos e utopias albanesas, mas eu era dos "puros e duros": Soviético, pró-russo, aquilo a que hoje se chamaria um "PC" ortodoxo mas que eu vivia como um sonho libertário e generoso.
Mesmo no Maio de 68, quando as coisas se exaltaram em Paris e contagiaram a juventude de todo o mundo, soube manter o distanciamento kremliniano às barricadas.

A quem me confrontava com os factos incómodos, eu contrapunha que era a propaganda imperialista e mostrava as maravilhas que já se desenhavam com Dubceck e a sua Primavera de Praga!
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O Império Vermelho vivia no meu coração!

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas desapareceu por decreto de Gorbatchov a 31 de Dezembro de 1991. Assim dizem os compêndios, que não mentem.

Mas para mim, o Império Vermelho dos meus sonhos, o que vivia dentro de mim e que era o mais importante, morreu de repente, a 21 de Agosto de 1968, quando numa traição inimaginável para a minha inocente generosidade, os tanques do Pacto de Varsóvia entraram na Praga de Dubceck.
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Chorei de raiva e de impotência atónita, mais ainda ao perceber que o "meu" partido, afinal, também ele atraiçoava o partido "irmão" de Alexander Dubceck, tudo a ruir nesse ano que veria em Dezembro o afastamento do Padre Felicidade da paróquia de Belém, que antecedeu a sua prisão pela PIDE e excomunhão em 1970.

.Treze anos é muito cedo para compreender as verdades por detrás dos sonhos!

.O Partido Comunista Português ficou, para mim, manchado para sempre com essa indelével nódoa da traição. E como é sabido, há nódoas que nem o benzovaque tira...
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Luís Pontes

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

"Monos"








Maria José Pontes


terça-feira, 1 de setembro de 2009

Esquerda? Direita? Quê???

.../...
eles comem tudo,
eles comem tudo,
eles comem tudo,
e não deixam nada.

Os nossos políticos, essa gente toda que se governa governando ou que se governa candidatando-se a governar-nos, passou o tempo a fazer gazeta às aulas de História e de Ciência Política e hoje dedicam-se a meter ideologias "na gaveta", ao sabor dos interesses de momento, chamando-se orgulhosamente pragmáticos e dizendo com o ar condescendente de quem já superou essa infantilidade, que acabou o tempo de se estar com essas minudências de Esquerda e Direita...
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São hoje um rancho coeso de ignorantes bem-falantes e acantonados em "democráticos" partidos, essas estruturas sinistras que eles tornaram exclusivos detentores da vontade do "querido Povo", não fosse algum povo querer atrever-se a falar sem ser pelas suas ungidas bocas, e propõem, ou fingem que propõem umas vagas soluções curiosamente sempre voltadas para uma suposta melhoria das nossas contas e do fim-de-mês e completamente vazias de valores e verdadeira orientação política daquilo que deve ser a coisa pública.
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A palavra de ordem é escamotear tudo o que pareça vagamente ideológico, como coisa do passado e promover personalidades e cifrões!
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É assim que temos um Partido "Socialista" que esqueceu que "socialista" quer dizer que se rege pelo primado social e age no dia-a-dia da governação com o mais desavergonhado liberalismo capitalista; temos um "Social-Democrata" em ensaio thatcherista, que tenta encontrar-se dizendo-nos que quer fazer às claras aquilo que o outro faz mas não diz que faz; um "Comunista" em luto eterno pela falecida Mãe dos Povos e nunca mais percebe que o que caiu, caiu, e não adianta fazer política de sessão de espiritismo à espera que um qualquer muro se ponha de novo em pé!
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E já que falo de todos os que por aqui andam a cheirar-nos o votinho, fica também esse Bloco a que chamaram de "esquerda caviar", que tendo sido a lufada fresca com que me tenho identificado nestes últimos anos, vejo agora, com alguma tristeza, na guerra de feiras, mercados e romarias beijoqueiras, tão ao lado da populista e demagógica Direita dos Submarinos, ai, ai!!
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Será que dia 27, ainda vai estar tempo para uma banhoca???
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Luís Pontes

terça-feira, 25 de agosto de 2009

"...eles sabem o que fazem."

Vi há meses um filme biográfico sobre William Wilberforce, "Amazing Grace".
Apesar de tal não figurar no filme, recordou-me que o grande abolicionista inglês do sec. XVIII foi o primeiro a chamar as consciências para os factos do dia a dia, quando calculou o número de chicotadas incorporadas em cada quilo de açúcar que chegava às mesas inglesas, já branco, doce e inocente.

A notícia vinha num desses jornais gratuitos que nos enfiam nas mãos todas as manhãs:
"Segundo a revista Exame, o valor do património dos 25 portugueses mais ricos foi reduzido em 8,5%, mas ainda totaliza mais de 17,7 mil milhões de euros, o que equivale a 10,7% do PIB de 2008."
Mais adiante, fiquei a saber que o meu compatriota mais rico, um tal Sr. Amorim, apesar de estar a ficar aflitivamente pobre e estar por isso a ser objecto de cuidados desvelados do nosso querido governo, ainda vai tendo um pé-de-meia de 2.000 milhões, prá velhice, coitado...

.................................................................................................... (adaptado de "Cícero")
Eu não sou nenhum craque a matemática, nunca fui.
Mas ainda vou conseguindo fazer uma contita de dividir, à merceeiro, e lá dividi os euros dele pelos meus, que são só os do fim do mês, contados antes de desaparecerem, lá para o dia 10 e multiplicados pelos 14 meses do ano.
Deve haver uma maneira elaborada, à economista, de fazer esta conta, mas à minha maneira merceeira, dá que ao fim do ano, o tal compatriota sr. Amorim vale 200.000 eus!

Eu, que até sou grande e gordo, fiquei ali, no autocarro, muito, muito pequenino, a imaginar os estádios da Luz e do Dragão e Barnabéus, todos cheios a abarrotar de eus para juntar as posses do Amorim... ainda tentei pensar nalguma metáfora futebolística, mas em futebol é que eu não sou mesmo nada e o que surgiu, pois claro , foi a sublime e eterna Sophia:

As pessoas sensíveis

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."

Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.

Sophia de Mello Breyner Andresen- Livro Sexto, 1962

Luís Pontes

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

RACISMOS NOVOS, RACISMOS VELHOS

..................................................................................... Aqui me encontro e confundo
......................................................................................com gente de todo o mundo
......................................................................................que a todo o mundo pertence.

......................................................................................António Gedeão, “Minha Aldeia”

Ser racista é presumir que um povo, grupo ou indivíduo sejam inferiores por razões naturais e independentes da sua vontade.

De uma maneira mais exigente mas decorrente da afirmação anterior, pode afirmar-se como racista qualquer generalização que defina ou caracterize alguém através de um ou mais atributos pertencentes a um grupo. Racismo é, assim, dizer-se que "trabalho é bom pró preto" ou que alguém é "um cigano nos negócios"!

Primeiras concepções racistas

O racismo é um conceito tardio na cultura ocidental.
Durante a Antiguidade Clássica e depois na Idade Média, admitia-se que todos os homens podiam ser livres ou escravos, não estando no entanto essa condição inscrita na sua natureza.

As primeiras concepções racistas modernas surgem em Espanha, em meados do sec. XV, à volta das questões judaica e muçulmana.
Até essa altura os teólogos católicos limitavam-se a exigir a judeus e muçulmanos a conversão ao cristianismo como condição para serem tolerados.
Contudo, rapidamente passou a ser colocada a questão da “limpieza de sangre” (limpeza do sangue), que defendia que a verdadeira conversão não passava apenas pela limpeza da alma e que o sangue, uma vez infectado por uma religião impura, ficava infectado para sempre.
Ou seja, a raça era determinada pela religião e vice-versa.
No século XVI esta concepção estende-se também a Índios e Negros.

O Racismo contemporâneo

As teorias racistas contemporâneas, surgem no sec. XVIII, com a tentativa de justificação cientifica da supremacia da raça branca europeia sobre todas as outras, e conhecem um enorme desenvolvimento no sec.XIX e princípios do sec.XX, com a formulação das teorias de Gobineau e Chamberlain que levariam o Mundo a conhecer todo o horror da sua aplicação prática pela Alemanha nazi , com o extermínio e escravização das raças “inferiores” ( judeus, árabes, negros, ciganos) e ainda dos “degenerados” ( homossexuais, deficientes, etc.).

Após a II Guerra Mundial, a comunidade científica foi chamada a pronunciar-se sobre o tema das diferenças rácicas e fê-lo, formalmente, por três vezes, à medida que progrediam os conhecimentos da Antropologia, Biologia e Genética.

Na última destas convenções, a de 1965, foi finalmente declarado que “ as doutrinas da superioridade fundada nas diferenças entre as raças são cientificamente falsas, moralmente condenáveis e socialmente injustas e perigosas, nada podendo justificar, onde quer que seja, a discriminação racial, nem em teoria nem na prática”.

Os novos racismos

Decorrido meio século sobre estas declarações, quando as investigações sobre o ADN humano provam agora à evidência que as diferenças entre seres humanos são tão diminutas que não pode mesmo sequer falar-se em raças, persiste o desencontro entre os posicionamentos científicos e o senso comum.
O racismo à nossa volta

Na última década foram efectuados dois importantes inquéritos, um pelo jornal Público e outro pelo Expresso. Os resultados foram algo curiosos e também preocupantes: 43% dos portugueses consideram que as atitudes racistas são muito comuns; 18% dos inquiridos brancos achavam que os negros eram “intelectualmente menos dotados”; 21% não dariam um cargo de responsabilidade a um negro e quase 60% declarou que se oporia a que uma filha se casasse com um cigano.

A uma aparente melhoria de atitude pessoal em relação ao racismo de “cor da pele” vêm agora juntar-se uma nova e infindável série de “racismos” de índole cultural, nacional e até de nível económico. Cercam-nos e aliciam-nos por todos os lados, corroendo as nossas defesas ao apresentarem-se com roupagens politicamente correctas e liberais.
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Apetece reler um pouco da mensagem do Cardeal R. Etchegarray, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, na sessão preparatória da Conferência Mundial Sobre o Racismo, em Genéve, Agosto de 2001:
“O racismo constitui uma chaga que permanece misteriosamente aberta no flanco da Humanidade. Diante da sua propagação e da sua banalização, o anti-racismo do passado parece ser pouco adequado no presente e tem necessidade de renovar as suas argumentações e por vezes, mudar mesmo de meta. A noção de racismo deve ser usada de forma delicada, classificando sob a sua rubrica todas as espécies de comportamento de desigualdade. Esta batalha, que é como uma guerra de corrosão, é sem dúvida o mais árduo de todos os combates em favor dos direitos do Homem.”.

domingo, 16 de agosto de 2009

Reza de incréu

......................................... Romeu Pontes - Lisboa, 23/7/1922; idem, 12/8/2009

Aos mistérios da morte, aos seus mitos e eternidades, apenas nos é permitido espreitar através desse outro mistério que é a fé.

Deixo por isso à fé o que à fé pertence e falo-vos antes do mistério do pó:

Levantado do chão, o pó torna-se homem, cresce, vive, ama, levanta do chão outros pós que o continuam e que crescem, vivem, amam.

A este pó que chamaram Romeu e a que eu chamei pai, a este pó que cumpriu o ser, faltava cumprir a etapa derradeira do regresso à poeira matriz original, fechando e continuando essa viagem maravilhosa a que chamamos Vida.

sábado, 25 de julho de 2009

Perfilados de Medo


Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
a vida sem viver é mais segura.

Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.

Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.

Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido…

Alexandre O'Neill (soneto dedicado ao General Humberto Delgado)

Luís Pontes

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Os Bunkers


"As grades do condomínio
São prá trazer proteção
Mas também trazem a dúvida
Se é você que tá nessa
Prisão..."
(Minha alma - O Rappa)
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Quando eu era puto a gente vivia junta!
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No prédio da minha infância, em Lisboa, os vizinhos eram díspares em classe social e económica mas nem por isso deixavam de ser vizinhos: no terceiro andar vivia um Secretário de Estado de qualquer coisa do governo de Salazar, vinham buscá-lo de manhã num carro preto com chauffeur fardado; no meu andar havia a nossa família, típica classe média assalariada, e uma casa onde viviam pessoas que vinham da provìncia, em quartos sub-alugados, no rés-do-chão um dono de drogaria de bairro e um vendedor ambulante de fruta.
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E não era estranho!
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No prédio ao lado vivia o então Governador da Guiné e quando eu chegava à escola primária lá estava o Prof. Hermano Saraiva, então ministro da educação, que vinha a pé desde casa, no bairro social, e ia tomar a bica aos "Gelados Chile" antes de seguir para o ministério.
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Quando eu era puto não havia condomínios fechados nem guettos!
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À tarde a gente miúda do prédio brincava no quintal comum e a Isabel, filha do governante, comia pão com manteiga ao lanche, como a Adelaide, neta do homem-da-fruta e o Julinho, filho do droguista de bairro.
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As classes sociais existiam mas também coexistiam, nem que fosse na partilha do espaço físico da residência, no pleno exercício da utopia urbana, que afirma a cidade como “espaço primeiro dos encontros, do ajuntamento enquanto festa".
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Após a revolução de Abril e o subsequente êxodo massivo das populações dos campos para as grandes metrópoles, a desproletarização e crescimento exponencial da classe média sem outros valores que não os do vácuo novo-rico, criou um fetichismo da ostentação e da propriedade privada bem como uma predominância exacerbada e sempre crescente dos aspectos económicos na sociedade.
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A negação da igualdade, afirmação do exibicionismo novo-rico, valor essencial da classe média, expressa-se pela crescente concentração de rendimento nas mãos de pequenos grupos, gerando uma marcada diferenciação entre os que tudo têm e os demais, a quem nem sequer resta espaço para existir dentro da cidade.
Para uma grande parcela destes últimos resta como perspectiva a tentativa de sobrevivência em pobreza ou mesmo miséria, ou o envolvimento em esquemas de acentuada violência, onde a vida se torna coisa sem valor.
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Nascem os bairros-campos-de-concentração: os guettos!
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Rapidamente, a cidade torna-se protagonista da distopia urbana.
Os inimigos cruzam os muros e, num quadro de extrema desigualdade sócio-político-cultural, urge a criação de muros dentro de muros.
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Assim, o medo das cidades caóticas, abarrotadas das classes "perigosas", leva os segmentos sociais de maior rendimento a fugirem dos espaços públicos convencionais, produzindo enclaves fortificados e profundamente exclusivos, para o seu trabalho, residência, lazer e consumo, gerando assim novas modalidades de exclusão, sendo
os espaços públicos abandonados à sua própria desintegração em zonas bem determinadas na cidade e no seu crescente subúrbio.
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Real ou imaginado, este medo do crime é freqüentemente entrelaçado com preconceitos de classe, ansiedades raciais e racistas, noções estereotipadas do pobre, do marginalizado, do preto, do cigano, para gerar construções ideológicas híbridas, sancionando um novo padrão de segregação espacial e discriminação social, o condomínio fechado, a cidade de muros e de bunkers, a arquitectura do medo!

Luís Pontes

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Racismo afinal 1

O racismo mais boçal e conhecido, o que baseia a sua argumentação em questões físicas como a cor da pele, é um fenómeno recente em termos históricos, coincidindo o seu aparecimento, grosso modo, com a vitória das teorias abolicionistas no Sec. XIX.
De facto, até esta altura e desde a antiguidade, as diferenças eram de condição e estabeleciam a discriminação entre grupos de acordo com critérios não-rácicos: nobreza/povo, livre/escravo, fiel/infiel, rico/pobre.

Só em 1854, com Gobineau, e depois em 1899 com Chamberlain, se teorizou finalmente a questão da superioridade da raça ariana sobre todas as ditas inferiores e degeneradas. Estas teorias, desenvolvidas na prática por Adolf Hitler e outros teóricos da superioridade da raça germânica, deram origem, além da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto a regimes como o do apartheid Sul-Africano, vergonha que haveria de manter-se até 1994.

Hoje, se é verdade que, em quase todos os países civilizados existe legislação anti-racista apertada, não é menos verdade que a prática continua a ser de uma vergonhosa discriminação no que respeita a oportunidades de acesso a educação, habitação, emprego, etc. e a uma guetização das minorias em desolados bairros periféricos, “barris de pólvora” que, mais tarde ou mais cedo, explodirão na cara de quem os formou.

Quanto a nós, brancos, civilizados e profundamente anti-racistas, vamos dormindo calmamente após as últimas notícias das escaramuças nos bairros “problemáticos”, afinal contentes quando a ASAE, que intimamente detestamos, descobre umas baratas na cozinha de um restaurante chinês ou apreende umas Lacostes contrafeitas numa feira de ciganos.
Antes, numa voltinha pela Net, recebemos e reenviámos aos nossos contactos, algum “aviso” chocante como este, que quase toda a gente recebeu, o dos ratos que seriam servidos nos restaurantes chineses, como frango!

É que, agora, já não se pode gritar um qualquer “morte à escumalha amarela”, até dá prisão! Não, agora o racismo ataca suave, com um sorriso, insidioso, buscando o que em cada um de nós há de mais primário, despertando emoções e preconceito.

No Sudoeste Asiático, os ratos do campo fazem parte da dieta de todos os dias, sendo até considerados iguaria.

Com fotos retiradas de um site de promoção turística tailandesa e uma legendagem habilidosa, faz-se um ataque subliminar à comunidade chinesa em Portugal, contando com a credulidade de quem o vê e, chocado, o difunde.


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Luís Pontes

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Dido e Eneias

Aplausos!

Tempos houve em que os artistas viviam dos aplausos. Os que eram bem pagos chegavam mesmo a dizer que uma plateia de pé valia mais que mil cachets, o que era evidentemente um exagero mas que retratava essa relação sinérgica artista/público, ao mesmo tempo de encorajamento, reconhecimento e medida do trabalho apresentado.
Evidentemente que havia também que contar com a possibilidade de silêncio, assobios ou pateada, a mais terrível das provações em palco, nesses dias em que tudo parecia correr mal.

Era deste balancear que era feita a vida de quem fazia do palco a sua vida, fosse em música, dança, teatro ou qualquer outra intervenção performativa. Era o momento da verdade, independente da crítica profissional, o momento mágico em que o público que quis pagar o seu bilhete fazia a sua crítica, a única que realmente importava.

Porque este momento era realmente único para quem se apresentava e para quem se pronunciava, obedecia a um bem estabelecido código que transformava o momento do aplauso num diálogo estruturado e participante.

Numa coreografia perfeita em que todos sabiam o seu lugar e papel, havia as palmas, o primeiro e segundo agradecimentos, as palmas ritmadas a pedir “encore”, as distinções especiais das chamadas, o aplaudir de pé, os “bravo”, os assobios, a pateada, a saída com o artista em palco, etc. Tudo ficava dito, tudo era explicitado!

Infelizmente, há alguns anos, os aplausos passaram, eles próprios, a fazer parte de uma outra coreografia mais vasta e perfeitamente controlada pelas produções dos espectáculos veiculados pela soberana televisão, onde o público é pago como figurante do show e a quem são ordenadas a cada momento as reacções que serão vistas pelo telespectador, assim conduzido e enganado.

Esta suprema perversão da relação artista-público, para mais num meio que é, gostemos ou não, o grande educador de massas, tornou o comportamento do público, quando se desloca a espectáculos ao vivo, uma caricatura obscena de incoerência a raiar a insanidade. Agora aplaude-se sempre! Agora aplaude-se sempre de pé, por muito tempo, até o artista voltar para o “encore” já sabiamente reservado para o efeito.
Também se aplaude tudo o que acontece em palco, desde qualquer apresentação prévia, entrada de músicos, apagar das luzes, o fim de uma ária, de um andamento, um solo mais popular como se de uma jam session se tratasse, todas as vezes que o palco escurece a partir de uma hora depois do início, originando cenas verdadeiramente constrangedoras com o artista a debitar o resto da peça no meio dos aplausos frenéticos ou, como já vi, suprema delicadeza ou ironia, dar o espectáculo por terminado, quase meia hora antes do seu verdadeiro fim… para não envergonhar o público!

Vi há dias no largo do S. Carlos, integrado numa iniciativa de animação cultural das noites lisboetas, o Festival ao Largo, uma apresentação da ópera de Henry Purcell, Dido e Eneias, encenada por Carlos Avilez e interpretada por alunos do Atelier de ópera e do Coro de Câmara da Escola de Música do Conservatório Nacional, o Grupo de Bailados Canora Turba e elementos da Orquestra Sinfónica Portuguesa.
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.............................. Foto de Ricardo Brito, publicada aqui
Não irei delongar-me em crítica operática, para a qual não tenho competência, mas deixo como nota que foi um espectáculo desigual e geralmente fraco.
Uma encenação à pressa que produziu um espectáculo de colagens estáticas, uma cenografia e um figurino dignos de festa de natal de escola secundária, um grupo de bailado displicente e com ar de estar a aviar farinheiras para despachar, os jovens cantores a evidenciarem uma inexperiência que nisto de canto lírico se paga muito caro, por fim o coro e músicos a excelente nível mas que não chega para salvar o que ali se viu.
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O espectáculo era gratuito mas eu sou dos que não acho que o facto de algo ser dado desculpe questões de qualidade.
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........................ Foto de Ricardo Brito, publicada aqui
À morte da Dido, preparava-me para um simples aplauso de circunstância, não se deve desencorajar quem está a dar os primeiros passos, ainda incertos, quando fui literalmente submerso por uma turba impelida por alguma invisível mola nos traseiros, a saltar em aplausos frenéticos, de pé um segundo após o final, gritando bravos e assobiando como num concerto de rock. Espantoso!
Fugi! Fugi profundamente envergonhado e humilhado por ter feito parte, mesmo por segundos, da turba anónima e entusiasmada.

Já vinha no Corpo Santo e ainda se ouviam os ecos da apoteose!
Luís Pontes

quarta-feira, 8 de julho de 2009

The Dark Side of the Loon

Tenho para mim uma máxima interessante e que aplico de vez em quando: As pessoas inteligentes discutem ideias, as medianas discutem factos e as outras falam da vida das outras.

Com a vulgarização da internet assiste-se a uma partilha de informação quase em tempo real que nos permite ter acesso a um número infinito de ideias, conhecimentos e de factos.
Mais, a internet permite que criemos pequenas “second lives” onde nos movemos e cujas regras podem ser criadas e recriadas por nós, como é o caso dos Blogues.

Assim, e no contexto da máxima referida, com a internet as pessoas inteligentes continuam a discutir ideias com a vantagem de as poder partilhar com muito mais pessoas, as pessoas médias podem discutir muitos mais factos porque vão buscar muito mais informação e as outras continuam a falar da vida das outras… E aqui é que se geram as confusões.

Falando dos blogues de cozinha…

Temos os blogues feitos por profissionais ou amadores esclarecidos que gostam de cozinha e gostam de partilhar as suas experiências “tout court”, sem trazer mal algum ao mundo.
Temos também os blogues “certinhos” – celulazinhas cinzentas, sempre atentas – que num modo de “autoplay” vão ajudando as pessoas a fazer o jantar.
Por fim, os outros blogues, essa imensa maioria que apenas não move um qualquer mundo porque ainda não encontrou nesse mundo um fulcro para pousar a alavanca. Esses blogues não partilham ideias (aparecem despidos desse atributo) nem ajudam a fazer um qualquer jantar (pelo contrário, ajudam e muito a perder o apetite).
Apresentam jantares… e almoços… e pequenos-almoços… e lanches… e idas à casa de banho… e o furúnculo que se tirou ontem porque estava a incomodar, para não falar da festa da comunhão da criancinha ou da flor que nasceu no jardim ou ainda do robot que vai passar a fazer o jantar.

Estes blogues e o seu conteúdo não são mais que o produto de uma qualquer conversa de um grupo alargado de pessoas ociosas que até se formatam para socializar virtualmente e reproduzir “ad nauseum” o que as mães guardavam num caderno de apontamentos e num livro de cozinha.

Basicamente plasmam o que Pierre Boulle escreve no seu “O planeta dos macacos”:
“O que caracteriza uma civilização? É o génio excepcional? Não; é a vida de todos os dias… (…) Mas tendo sido escrito um livro original – nunca há mais de um ou dois por século – os macacos imitam-no, isto é, recopiam-no, de maneira que são publicadas centenas de milhares de obras tratando exactamente dos mesmos assuntos, com títulos um pouco diferentes e combinações de frases modificadas.”

O que há anos não passava de uma tímida conversa à mesa que acabava com uma troca de receitas para fazer “aquela” sobremesa ou aquele saboroso assado transformou-se, pela blogosfera, num desfile pornográfico de sopinhas, sobremesazinhas, bolinhos e coisinhas, com a assistência a clamar por uma fatiazinha ou por um bocadinho, apesar de não ser sequer hora do almoço e depois a balança reclamar, ao ponto de inviabilizar o uso de biquíni nos próximos cinco anos, mesmo que se ande a água o resto do ano.

E uma página é mesmo o limite que se pode escrever sem correr o risco do resto do texto se perder com a abertura de uma nova janela… Onde se fala de bolos feitos com coca cola, mas parece que com isostar é melhor, mas eu fiz com sumol porque a fanta me faz gases e não tinha frissumo na despensa, mas tirava uma fatia e levava a outra para casa para dar ao papagaio.

Viva a blogosfera… E já agora, a patetice.

A. Cupido

terça-feira, 7 de julho de 2009

As Mortes do Nosso Contentamento!

"À Morte ninguém escapa,
nem o rei,
nem o cura,
nem o Papa!"
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Era com palavras destas que se construía a imagem reconfortante de uma morte igualitária e democrática, a suprema justiça vingadora e final que assim supria o desconfortável facto de, em vida, 1% da população mundial (incluindo nesse 1% eu e o leitor!) deterem o mesmo que 57% dos outros "irmãos", os mais desafortunados, outro eufemismo com que se alivia a consciência para a abjecta sorte da enorme maioria dos habitantes deste barco planetário em que estamos todos embarcados.
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E, no entanto, que falsidade!
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Foi precisamente a morte que veio, nestes últimos dias, definir claramente essa importante questão do Who's who, do quem é quem nesta vida e, pois claro, nesta morte, que mortes, como os chapéus, há muitas!
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A morte de um cidadão de 1ª cum laude - Michael Jackson
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A morte de alguém assim é uma festa planetária e transforma-se de imediato num chorudo negócio de milhões, ou não fossem os indigentes deste mundo, felizmente propensos a gastar os últimos tostões num qualquer merchandising alusivo à "estrela" ou rei de qualquer coisa, neste caso, dizem, da pop.
Entrevistas, tributos, programas de tv, reedições, homenagens, convites sorteados e disputados para o enterro, transmissão em directo e global! Ah! que grande homem!
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Quem não conseguiu lugar, não desespere que a festa continua por mais uns dias, pelo menos até morrer outro "rei" qualquer e certamente ainda vai aparecer na e-bay alguém que teve o discernimento de guardar em devido tempo uma fraldinha do rei-bebé, repleta de merdinha amarela, como é próprio de quem ainda só bebia leite....
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A morte de cidadãos de 1ª - O Airbus A330 da Air France
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A 1 de Junho, um vôo atribulado da Air France acabou no fundo do Atlântico com os seus 228 passageiros.
Por qualquer motivo obscuro, ou até nem tanto, este acidente aéreo em tudo igual a todos os acidentes aéreos, mobilizou à força a atenção pública durante cerca de uma semana em exclusivo, a estação de tv SIC chegou mesmo a preencher totalmente o seu Jornal de horário nobre no dia seguinte ao acidente, sem incluir qualquer outra notícia! E note-se que bem pouco se sabia sobre o acidente.
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Foi um "fartar vilanagem"!
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Afinal estavam ali todos os ingredientes para alimentar o público sedento de emoções rápidas e descartáveis: uma companhia aérea europeia e de prestígio, quase todos brancos e bonitos, um casal em lua-de-mel, um reizinho de pacotilha ainda primo do nosso glorioso congénere e também habitante das revistas cor-de-rosa, condolências entre chefes de estado, luto oficial, os habituais comandantes da TAP a dizerem umas coisas de "perito" que o "comandante" seguinte logo desdiz com o mesmo ar compenetrado e solidário, a correspondente Ivane Flora lá do Brasil a dizer mil vezes o mesmo nada choramingas, finalmente lá conseguem que o nosso rei venha dizer que afinal conhecia o primo transatlântico, homem de valor e tal, umas famílias destroçadas pela morte dos familiares e pela devassa impiedosa dos media em busca das tão apetecidas lágrimas...
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Que boas e baratas estas mortes de 1ª que fazem com que não se repare em mais nada!
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A morte de cidadãos de 2ª - O Airbus A330 da Yemenie Airlines
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A 29 de Junho, um vôo entre Marselha e Moroni, nas Comores (alguém sabe onde é isto?), acabou no fundo do Índico com 154 passageiros a bordo.
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Não havia qualquer pretendente a uma corôa a bordo nem casal em lua-de-mel.
A companhia aérea era do Yémen (alguém sabe onde é isso?) e os passageiros eram das Comores e franceses mas na realidade emigrantes, pretos e pobres, uma chatice.
Lá se deu a notícia porque o avião era igual ao glorioso de 1 mês antes e rapidamente se falou mais desse do que do avião dos pretos e pobres.
Valha-nos isso e uma miraculada pretinha sobrevivente de 14 anos a provar que Deus é grande... a menina no hospital, o pai emocionado, a mãe morta mas a menina ainda não sabe, Ah o milagre da vida desta vez, a dar notícias para preencher aqueles terríveis finais de telejornal que é preciso estender para que acabem ao mesmo tempo que o da estação concorrente.
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A morte de cidadãos de 3ª
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Nunca ouvi dizer que essa malta de 3ª (e 4ª, e 5ª) morresse!
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No outro dia falaram de 16 milhões só este ano, qualquer coisa de uma criança a cada 3 segundos, mas acho que não estavam a falar de gente mas sim de fome.
Também falaram de 3 milhões num ano mas era de malária e cinco mil e tal por dia, mas era de SIDA e toda a gente sabe que, com os retrovirais, a Sida já não mata ninguém.
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Como é que podiam ser números de gente? Se fosse assim já não havia gente no mundo, não era? Devem ser esses maluquinhos das estatísticas... e toda a gente sabe que o cérebro humano não consegue perceber números tão grandes assim.
...e depois é sempre em sítios tão esquisitos que eu acho que é tudo invenção desses jornalistas e gente que quer apanhar o nosso rico dinheirinho, que já é tão pouco!
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Nota:
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Sinta-se livre para comentar, faça o seu próprio artigo de fundo e envie como comentário ou para o meu e-mail para ser aqui publicado nesta página que é sua.
Se quiser saber mais, veja aqui, aqui e aqui.
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Luís Pontes

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Cá vamos!!!

Sendo um amante da cozinha, pensei ter encontrado na blogoesfera do tema gastronomia/culinária um espaço criativo e fecundo quando lá entrei pela primeira vez, há dois anos.
Enganei-me!
Apesar das sempre honrosas excepções, que as há, vive-se ali num ambiente de gineceu conservador e politicamente correcto, com muitos salamaleques mútuos e virtuosismos culinários sobre receitas mil vezes repetidas, copiadas, recopiadas...

Que este Benzòdeus que agora se inicia, seja um espaço que inove uma abertura que vai faltando na Blogoesfera.
Que seja um fórum de confronto e discussão livres, sem peias nem censuras outras que não as dos limites da estupidez, da grosseria gratuita, dos racismos vários e do anonimato, esse vírus terrível que perpassa a blogosfera de modo transversal numa onda de infantilismo irresponsável e tonto.
Aqui pode-se transgredir mas não esconder, ousar mas não acobardar, denunciar mas não delatar, pseudónimos não!

Que este benzòdeus seja um sítio para gente que dá a cara pelo que diz e como diz, sem medo e com assinatura! Para homens e mulheres sem medo.

Conto convosco!

Luís Pontes