quinta-feira, 24 de novembro de 2011

GREVE GERAL? ...SEJA O QUE ZEUS QUISER!

              Uma greve geral, instrumento final de insurreição de povos oprimidos contra ditaduras, é em Democracia,  uma aberração que, não apresentando nenhum dos pressupostos e objectivos da greve laboral constitucionalmente prevista e direito sagrado de quem trabalha, apenas serve como forma de "manifestação compulsiva", o modo como os dois partidos que representam 13% dos portugueses, através da seu anti-democrático controlo dos sindicatos dos transportes públicos, obrigam os outros 87% de portugueses a enfileirar numa “manifestação” a que nunca iriam, como demonstraram ainda há 5 meses, ao escolherem esta via em que estamos e não a via dos tais 13%.

As escolhas feitas em Democracia, sagradas para quem teve a sorte de ter tido uma formação democrática séria e serena, parecem não beliscar sequer a raiva dos  "democratas-novas-oportunidades" ou “democratas-directos” em que a maioria se formou no tempo do PREC.
Quando um democrata não gosta da escolha que o povo fez, tem o direito (e o dever perante a sua consciência) de manifestar o seu desacordo em voz tão alta quanto puder e lutar com as armas democráticas, que são a manifestação, a argumentação e persuação, para inverter os próximos resultados democraticamente sérios, os das urnas.
E não, não temos o direito de fazer, em Democracia, uma greve geral!

Apesar de ter a boca sempre cheia de chavões democráticos, a esquerda portuguesa, nomeadamente os partidos “profissionais” de oposição, têm demonstrado desde os tempos em que foram sacudidos do assalto a Portugal, nos tempos do PREC, uma preocupante falta de cultura democrática, bem documentada sempre que, após receberem nas urnas o aval de menos de 8 em cada 100 portugueses, arranjam um ajuntamento de 50.000 nas ruas ou numa festa para então poderem gritar bem alto: “Assim se vê, a força do PC!”, que 50 mil parece tanta gente, não é?
Quase que enchiam um estádio para um Benfica – Porto!

Claro que não se pode esperar mais cultura democrática de um país que ainda há pouco tinha na sua Constituição a indicação do que devia ser o sentido de voto dos portugueses…
É talvez a maldição do Sul: entre a elevação civilizacional e cidadania dos irlandeses e o caos irresponsável dos gregos, escolhemos o “modelo” grego e seja o que Zeus quiser!
Alguém há-de pagar um dia os 300 milhões de euros que Portugal, hoje, deitou pela borda fora (gente rica é outra coisa!).
Paz à nossa alma, que com democratas assim mais nada deve sobrar!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

GREVE GERAL? SE PUDER, NÃO FAÇO!!!

          
          A greve nasceu e existe para, em última análise, servir os trabalhadores contra quem os explora, normalmente os patrões. É a única forma de punição do patronato, atingindo-o naquilo que lhe é mais caro, as mais-valias do trabalho, ou, mais terra-a-terra, indo ao bolso do patrão, deixando-o mais pobre!
O direito à greve é algo de inquestionável e inalienável, até porque dolorosamente conquistado com sangue, suor e lágrimas.
Mas se o direito a fazê-la não se questiona, já os motivos que levam que menos de 15% dos portugueses se arroguem o direito de fazer parar os outros 85%, nomeadamente recusando os mais elementares serviços mínimos no sector dos transportes e assim coagindo quem quer trabalhar a não o poder fazer por falta de mobilidade, são realmente questionáveis. Como questionável é o facto que toda a gente se acobarde perante sindicatos que em vez de defenderem quem trabalha, estão hoje transformados em “braço armado” de minorias políticas e que tentam esconder que o Estado somos afinal todos nós, que esta é uma greve sem alvo, é uma greve contra a política escolhida ainda em Junho pela maioria absoluta dos eleitores,  é uma greve que, ao ser contra o Estado é também contra nós próprios, é um (mais um) tiro no pé de quem a faz e de todos os portugueses, que ficaremos ainda um pouco mais pobres, trabalhadores, patrões, precários, desempregados, todos.
Todos? Talvez não! Mais “ricos” ficam aqueles que, certos da superioridade moral das suas opiniões e escolhas, inconsoláveis da escolha que os portugueses fizeram, vão tentando piorar o que já é mau, tentando através do exercício de um direito (de resto não reconhecido nos países em que se pratica ou praticou a “democracia” deles), a instalação de um estado de pobreza e caos onde possam de novo medrar.

Infelizmente, e porque os meus clientes (e ganha-pão) são todos da maltratada e arruinada classe média, acontece que eu vou fazendo "greve" forçada, hoje, como já foi ontem e a maioria dos dias.
Se, na 5ª feira, eu tiver a sorte de, por acaso, poder fazer greve (porque arranjei algum trabalho), garanto que NÃO  FAÇO!!!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Felizmente irresponsáveis !!!

      

                    Todos os dias, ingénuo, me inquieto por um momento para logo a seguir respirar aliviado, quando percebo que o que por aqui se opina da maneira mais desbragada, felizmente é da mais total inconsequência e não passa de saudável catarse aquietadora de consciências e escape para sonhados e nunca cumpridos devaneios juvenis, mas que, tal como a sagrada confissão ao senhor prior, só interessa à alma do confessado e ao ego do arengador.

Veio este arrazoado introdutório a propósito do espanto que sempre me percorre quando, a cada passo tropeço com as posições de gente que é evidentemente honesta, que ao longo da vida sempre honrou compromissos, pagou o que comprou e hoje não deve nada a ninguém, mas que quando toca às dívidas colectivas, logo saltam como mordidos nas nalgas por peçonhento lacrau, uns em fúria, outros mais enquadrados por argutos argumentos político-filosóficos, mas basicamente a dizerem o mesmo: “Não pagamos”, “a dívida não é nossa” “ a culpa da dívida foi de quem nos governou”, etc., esquecendo que aceitámos os políticos que nos puseram a viver a crédito, que gostámos todos de viver à europeia e trabalhar à marroquino, que fomos assobiando para o lado e correndo com toda a gente (reacionária!!) que se atreveu  a chamar-nos a atenção para o inevitável desenlace, que nos últimos 35 anos, TODOS os governos foram da exclusiva responsabilidade do povo que os escolheu e que, mesmo antes, qualquer governo, mesmo ditatorial, representa e é da responsabilidade do povo que, apesar de o não ter escolhido, o tolera.

Há até, e estou a falar de gente culta e na plena posse das suas faculdades, quem afirme que a culpa das nossas dívidas é de quem nos emprestou o dinheiro, o que, visto ao contrário, até é, do ponto de vista de La Palisse, perfeitamente verdade: se os mercados, ou os bancos, não nos tivessem emprestado o que lhes pedimos, não teríamos ficado endividados… do mesmo modo que, de facto, o verdadeiro responsável pelos suicídios com comprimidos são as tenebrosas multinacionais farmacêuticas que os fabricou e pôs à disposição dos incautos suicidas.
Mas felizmente que tudo isto se vai passando nos blogs e Facebook, as Yellow Brick Roads de faz-de-conta dos nossos palcos e tribunas virtuais, quais oradores em cima de caixote, a salvar o mundo no Speakers Corner, lá em Hyde Park.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

DEMOCRACIA, GRÉCIA, REFERENDO E HUMILDADE

                 Em democracia há um tempo para lutar por ideias e depois, um tempo para se pôr em prática, sem boicotes e todos juntos, o que foi a decisão da maioria, por muito errado que achemos que foi essa decisão.
Esta é a essência da democracia e qualquer argumento no sentido da avaliação da qualidade do voto ou da impreparação do povo para decidir é, sempre, um germe de tirania a querer furar para impor a vontade da tal minoria sempre indignada com as "parvoíces" que a populaça reles e enganada decide nas urnas.
É destes transportes iluminados que nascem todas as ditaduras!
A serenidade democrática é algo superior, reservado às nações mais avançadas em civilização e cidadania e que para nós, infelizmente, não passa ainda de um verniz mal aplicado e que estala à primeira dificuldade, que consiste, normalmente, em percebermos que a maioria não pensa como nós.
Sagrada ou não, bem ou mal exercida, a democracia representativa continua a ser, até aparecer quem invente melhor sistema, a única forma de exercício do poder que nos defende da ditadura "esclarecida" de todos estes que, sobranceiramente, vão sendo superiores a esse sistema que teima em equipará-los a povo, essa horda de ranhosos, burros e manipuláveis, que toda a gente sabe que não sabem votar... uma vergonha!
Só quem tem da democracia essa noção de estorvo ao exercício do poder arrogante e iluminado de quem "estudou" teoria política e que agora, vindo da direita fascista ou da esquerda marxista-qualquer coisa, pode clamar contra esse instrumento responsabilizador supremo (e assustador) da democracia que é o referendo, com que o povo grego vai, se o deixarem, decidir por fim o seu destino.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Media / mídia e Defenestração


               A  palavra latina media lê-se "média"!

A letra "e" não tem outra maneira de ser lida em latim. Significa “meios” e deu origem a muitas palavras portuguesas como mediastino ou mediador.
Como tantas outras expressões latinas que se usam para enfatizar ou por falta de palavras, na língua viva, que expressem exactamente um determinado significado, mantêm-se ditas em latim.
É por isso que se diz ipso factus, et caetera, stricto sensu, in loco, ipsis verbis e tantas, tantas outras.

Os anglo-saxónicos em geral e os norte-americanos em especial, talvez por usarem a língua que é cada vez mais a universal, têm uma proverbial dificuldade com as línguas estrangeiras, dispensando-se olimpicamente de tomar conhecimento das regras linguísticas que regulam as palavras que adoptam de outras línguas, lendo-as como se de uma palavra anglo-saxónica se tratasse.
É esta confrangedora e arrogante burrice que fez os americanos leram media à sua maneira, ou seja pronunciando “mídia” e rapidamente esquecendo que era a própria palavra latina e não uma sua que estavam a usar!

Ora, a burrice dos poderosos é, por norma e definição, uma burrice poderosa e desempenhando o seu papel de potência regional dominante no continente americano, rapidamente impôs a sua burra forma de dizer a um “colonizado” Brasil, sempre demasiado ávido de copiar acefalamente o que vem do todo-poderoso vizinho do Norte e passou então também, alegremente, não só a dizer como a grafar esse desavergonhado e burro neologismo/estrangeirismo “mídia”.

Quem conhece o “português do Brasil”, in loco, não o dos livros e dos círculos cultos mas o autêntico, aquele verdadeiro e riquíssimo crioulo que os brasileiros usam para falar entre eles, na rua, sabe que a lusofonia é uma piedosa ficção, quiçá o último resquício do Império da nossa memória.
O Brasil, como todos os países novos e resultado de enorme e miscigenado caldo cultural, tem uma evolução linguística rápida e alucinante que é necessário saber respeitar e tentar compreender mas, evidentemente, que é suicídio cultural tentar copiar.

Mas Portugal tem esse eterno gosto masoquista de confundir evolução com normalização, aprendizagem com cópia cega, cooperação com subserviência, seguidismo com modernidade.
E modernidade passou a ser ler uma palavra latina à inglesa e grafá-la à brasileira!
Não se pense, no entanto que este foi um reflexo popular da colonização telenovelística, igual a tantos outros! Não! Mídia foi palavra que passou a ser empregue pela fina-flor da inteligentsia deste país: ministros, deputados, jornalistas, até o professor de Direito (portanto com a cadeira de latim no currículo académico) Marcelo Rebelo de Sousa a empregou assim bem dita para que não houvesse dúvidas, MÍ-DI-A!!!

Às vezes penso se não serei eu, que até uso muitos estrangeirismos (mas grafados em itálico), que estarei a ser Velho do Restelo, saudosista contra-corrente, como é próprio dos velhos.

Mas não!

Do fundo do tempo da minha adolescência chega-me a voz da notável mestra do Português, Maria Virgínia Capelo que entre detestadas declinações e análises gramaticais e semânticas dizia “as línguas mortas estão mortas, não se mexem mais: por isso são o nosso padrão”.

Direi em Português “até que a voz me doa”, escreverei na minha língua até o discernimento me permitir, correndo até o risco de me tornar ininteligível no meio destas alegres patetices que a ignorância vai achando “cool”, neste país que vai “recepcionando” em vez de receber,”vivenciando” em vez de viver, “gerenciando” em vez de gerir, “experienciando” e vez de experimentar, “acessando” em vez de aceder, enquanto mais alto, por uns tostões editoriais inconfessados e inconfessáveis, os verdadeiros traidores vendem com a força da Lei, aquilo que é o mais profundo elo identitário de uma nação: a sua língua!
Se relembrarmos a língua como Mátria, esse conceito tão querido à saudosa Natália, vender a nossa língua é mais que traição: é vender a própria mãe!

Por bem menos que isto voou há anos o traidor Miguel de Vasconcelos, que hoje até nem seria traidor nenhum, num episódio que teve o condão de me ensinar para sempre o significado, em português, dessa curiosa palavra que é “Defenestração”.

Luís Pontes

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

quis Deus que eu fosse forte em timidez e ingenuidade


                   Sobre mim, posso dizer que não sou economista, sempre fui fracote nas matemáticas e nunca tive nenhuma mercearia nem, aliás, qualquer comércio. Poderá assim, sem ser precisa grande esperteza, deduzir-se, e bem, que não percebo nada das grandes contas dos países, que me faz alguma tontura números de milhões e biliões e que nem se pode dizer que sei fazer as velhas “contas à merceeiro”.
Em compensação disto tudo que não sou, quis Deus que eu fosse forte em timidez e ingenuidade, mistura ela própria pouco original mas que me tem acarretado não pouco sofrimento existencial.
Tolhido pela timidez e portanto incapaz de formular a pergunta que há tempos me aflige, acordo todos os dias com a ingénua convicção profunda que naquele dia que começa, alguém surgirá e dirá, preto no branco, onde estão os 5,5 mil milhões de euros que voaram do BPN.
Sim, eu sei que não percebo bem uma quantia assim tão grande, mas, que diabo, dá para perceber que são os buracos de 3 (três) Albertos Joões Jardins e ainda sobram uns trocos jeitosos. Que se os maganões que se abotoaram com o dinheiro que agora penamos o devolvessem, nós ficávamos já livres de imposto sobre o 13º até 2013 ( eu sou ingénuo mas não ao ponto de acreditar que a sangria do porco natalício vai ser só este ano), o deficit deste ano encolhia-se logo para 5,1%, até o Jardim ganhava direito a mais um anito descansado de forrobodó na sua república das bananas.
Mas dia após dia todos se calam num ensurdecedor silêncio disfarçado de segredo de justiça e eu, ingénuo mas não tanto que chegue a parvo, começo a perguntar-me baixinho se, além dos dois ou três que se prenderam, não andam aí à solta muitos figurões abotoados com os meus 550€ que, se fiz bem a conta de dividir, foi quanto me calhou (e a todos os portugueses) do buraco do BPN.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Portugal fez tudo errado, mas correu tudo bem (texto de 2005)

AVISO: Como muito bem notou zéHelmer no comentário a este post, o texto que se segue merece as maiores reservas sendo apenas mais uma efabulação de João César das Neves, nomeadamente quanto à existência da Fundação Richard Zwentzerg, sendo portanto as suas "conclusões", obviamente, uma trapaça com que JCN vai encobrindo as suas teorias.




 Este notável texto de João César das Neves, foi publicado em 2005 (não consegui apurar onde), portanto em pleno tempo de "vacas gordas" e, bem lido hoje, explica sem dúvida muitas coisas. Seis anos passados, afinal, bem se vê agora que a época dos milagres já acabou e que " Cá se fazem....".

Esta é a conclusão de um relatório internacional recente sobre o desenvolvimento português.

Havia até agora no mundo, países desenvolvidos, subdesenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Mas acabou de ser criada uma nova categoria: os países que não deveriam ser desenvolvidos. Trata-se de regiões que fizeram tudo o que podiam para estragar o seu processo de desenvolvimento e... falharam.

Hoje são países industrializados e modernos, mas por engano. Segundo a fundação europeia que criou esta nova classificação, no estudo a que o DN teve acesso, este grupo de países especiais é muito pequeno. Alias, tem mesmo um só elemento: Portugal.

A Fundação Richard Zwentzerg (FRZ), iniciou há uns meses um grande trabalho sobre a estratégia económica de longo prazo. Tomando a evolução global da segunda metade do século XX, os cientistas da FRZ procuraram isolar as razões que motivavam os grandes falhanços no progresso. O estudo, naturalmente, pensava centrar-se nos países em decadência. Mas, para grande surpresa dos investigadores, os mais altos índices de aselhice económica foram detectados em Portugal, um dos países que tinham também uma das mais elevadas dinâmicas de progresso.

Desconcertados, acabam de publicar, à margem da cimeira de Lisboa, os seus resultados num pequeno relatório bem eloquente, intitulado: "O País Que Não Devia Ser Desenvolvido".- O Sucesso Inesperado dos Incríveis Erros Económicos Portugueses. Num primeiro capítulo, o relatório documenta o notável comportamento da economia portuguesa no último meio século. "De 1950 a 2000, o nosso produto aumentou quase nove vezes, com uma taxa de crescimento anual sustentada de 4,5 por cento durante os longos 50 anos. Esse crescimento aproximou-nos decisivamente do nível dos países ricos. Em 1950, o produto de Portugal tinha uma posição a cerca de 35 por cento do valor médio das regiões desenvolvidas. Hoje ultrapassa o dobro desse nível, estando acima dos 70 por cento, apesar do forte crescimento que essas economias também registaram no período. Na generalidade dos outros indicadores de bem-estar, a evolução portuguesa foi também notável.

Temos mais médicos por habitante que muitos países ricos. A mortalidade infantil caiu de quase 90 por mil, em 1960, para menos de sete por mil agora. A taxa de analfabetismo reduziu-se de 40 por cento em 1950 para dez por cento.

Actualmente a esperança de vida ao nascer dos portugueses aumentou 18 anos no mesmo período. O relatório refere que esta evolução é uma das mais impressionantes, sustentadas e sólidas do século XX. Ela só foi ultrapassada por um punhado de países que, para mais, estão agora alguns deles em graves dificuldades no Extremo Oriente. Portugal, pelo contrário, é membro activo e empenhado da União Europeia, com grande estabilidade democrática e solidez institucional. Segundo a FRZ, o nosso país tem um dos processos de desenvolvimento mais bem sucedidos no mundo actual. Mas, quando se olha para a estratégia económica portuguesa, tudo parece ser ao contrário do que deveria ser. Segundo a Fundação, Portugal, com as políticas e orientações que seguiu nas últimas décadas, deveria agora estar na miséria. O nosso país não pode ser desenvolvido.Quais são os factores que, segundo os especialistas, criam um desenvolvimento equilibrado e saudável? Um dos mais importantes é, sem dúvida, a educação.

Ora Portugal tem, segundo o relatório, um sistema educativo horrível e que tem piorado com o tempo. O nível de formação dos portugueses é ridículo quando comparado com qualquer outro país sério. As crianças portuguesas revelam níveis de conhecimentos semelhante às de países miseráveis. Há falta gritante de quadros qualificados. É evidente que, com educação como esta, Portugal não pode ter tido o desenvolvimento que teve. Um outro elemento muito referido nas análises é a liberdade económica e a estabilidade institucional. Portugal tem, tradicionalmente, um dos sectores públicos mais paternalista, interventor e instável do mundo, segundo a FRZ. Desde o "condicionamento industrial" salazarista às negociações com grupos económicos actuais, as empresas portuguesas vivem num clima de intensa discricionariedade, manipulação, burocracia e clientelismo. O sistema fiscal português é injusto, paralisante e está em crescimento explosivo. A regulamentação económica é arbitrária, omni presente e bloqueante.

É óbvio que, com autoridades económicas deste calibre, diz o relatório, o crescimento português tinha de estar irremediavelmente condenado desde o início. O estudo da Fundação continua o rol de aselhices, deficiências e incapacidades da nossa economia. Da falta de sentido de mercado dos empresários e gestores à reduzida integração externa das empresas; da paralisia do sistema judicial à inoperância financeira; do sistema arcaico de distribuição à ausência de investigação em tecnologias. Em todos estes casos, e em muitos outros, a conclusão óbvia é sempre a mesma: Portugal não pode ser um país em forte desenvolvimento.

Os cientistas da Fundação não escondem a sua perplexidade. Citando as próprias palavras do texto: "Como conseguiu Portugal, no meio de tanta asneira, tolice e desperdício, um tal nível de desenvolvimento? A resposta, simples, é que ninguém sabe.

Há anos que os intelectuais portugueses têm dito que o País está a ir por mau caminho. E estão carregados de razão. Só que, todos os anos, o País cresce mais um bocadinho. "A única explicação adiantada pelo texto, mas que não é satisfatória, é a incrível capacidade de improvisação, engenho e "desenrascanço" do povo português.

No meio de condições que, para qualquer outra sociedade, criariam o desastre, os portugueses conseguem desembrulhar-se de forma incrível e inexplicável. O texto termina dizendo:

"O que este povo não faria se tivesse uma estratégia certa?".

João César das Neves

terça-feira, 12 de abril de 2011

A Colonoscopia

..................... Há muitos anos, talvez uns trinta, um amigo que ocupava um cargo de topo numa empresa lider, largou tudo e foi fazer uma ONG lá para África. Eu, que não lhe conhecia tendências humanitárias ou africanistas, estranhei, ao que ele me disse: -"não sejas parvo! isto das ong's é que está a dar!".
Só percebi uns anos depois, eu na cepa-torta e ele já rico e nas bocas do mundo e pelos melhores motivos.

Veio este intróito quase sem ponta por onde se lhe pegue apenas para, com um compasso de espera, refrear o vernáculo mais sombrio que me costuma assombrar a escrita em momentos como este, em que eu perco a minha habitual e pragmática calma, para dar lugar a algo raro que tentarei descrever como raiva, amargura, desalento, incredulidade, essa sensação de ver à venda na Feira da Ladra aquela peça que tinha dado para o peditório da paróquia. 
Mas nada disto descreve realmente o que me vai por dentro: eu estou mesmo é lixado (e claro que não é "lixado" que eu queria dizer)!

Aos políticos, há anos que tinha deixado de lhes ligar, farto dos logros sucessivos, convencido da inutilidade de lutas quixotescas contra um bem oleado sistema de políticas pessoais e mesquinhas, totalmente viradas para o enriquecimento de lobbies e boys partidários no saque ao aparelho do estado que, teoricamente, até era de todos nós. 
Então ele apareceu e eu voltei a acreditar!  Acreditei em palavras como honestidade, cidadania, isenção, voz para a multidão de deserdados que aumentava a cada dia e até lhe perdoei gaffes, inexperiências, contradições que me pareceram apenas expressão de singular ingenuidade. 
Até fiz 250km para ir votar nele, pela primeira vez em muitos anos a pensar que o meu voto em Fernando Nobre podia ser importante.
Afinal, a montanha da cidadania pariu um ratito político, cheio da peçonha da politiquice nacional; pretensamente independente, aceitou Nobre afinal o único envenenado lugar onde seguramente nada poderá afirmar, em nada poderá intervir, para além de dar palavra a deputados e contar votações. Passos Coelho  afinal, talvez não seja assim tão parvo...
Desapontado, desiludido, triste, atraiçoado no que me atrevi a sonhar, vou-me refreando para não escrever com a crueza que me apetece esta sensação de quem fez uma colonoscopia à bruta, sem anestesia nem vaselina e vou tendo como único paliativo a imaginação dos dias sem fim às voltas com o Regimento, os discursos, as moções, as comissões, os discursos, os discursos, os discursos ...
É muito bem feito, dr. Fernando Nobre!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011