quarta-feira, 19 de agosto de 2009

RACISMOS NOVOS, RACISMOS VELHOS

..................................................................................... Aqui me encontro e confundo
......................................................................................com gente de todo o mundo
......................................................................................que a todo o mundo pertence.

......................................................................................António Gedeão, “Minha Aldeia”

Ser racista é presumir que um povo, grupo ou indivíduo sejam inferiores por razões naturais e independentes da sua vontade.

De uma maneira mais exigente mas decorrente da afirmação anterior, pode afirmar-se como racista qualquer generalização que defina ou caracterize alguém através de um ou mais atributos pertencentes a um grupo. Racismo é, assim, dizer-se que "trabalho é bom pró preto" ou que alguém é "um cigano nos negócios"!

Primeiras concepções racistas

O racismo é um conceito tardio na cultura ocidental.
Durante a Antiguidade Clássica e depois na Idade Média, admitia-se que todos os homens podiam ser livres ou escravos, não estando no entanto essa condição inscrita na sua natureza.

As primeiras concepções racistas modernas surgem em Espanha, em meados do sec. XV, à volta das questões judaica e muçulmana.
Até essa altura os teólogos católicos limitavam-se a exigir a judeus e muçulmanos a conversão ao cristianismo como condição para serem tolerados.
Contudo, rapidamente passou a ser colocada a questão da “limpieza de sangre” (limpeza do sangue), que defendia que a verdadeira conversão não passava apenas pela limpeza da alma e que o sangue, uma vez infectado por uma religião impura, ficava infectado para sempre.
Ou seja, a raça era determinada pela religião e vice-versa.
No século XVI esta concepção estende-se também a Índios e Negros.

O Racismo contemporâneo

As teorias racistas contemporâneas, surgem no sec. XVIII, com a tentativa de justificação cientifica da supremacia da raça branca europeia sobre todas as outras, e conhecem um enorme desenvolvimento no sec.XIX e princípios do sec.XX, com a formulação das teorias de Gobineau e Chamberlain que levariam o Mundo a conhecer todo o horror da sua aplicação prática pela Alemanha nazi , com o extermínio e escravização das raças “inferiores” ( judeus, árabes, negros, ciganos) e ainda dos “degenerados” ( homossexuais, deficientes, etc.).

Após a II Guerra Mundial, a comunidade científica foi chamada a pronunciar-se sobre o tema das diferenças rácicas e fê-lo, formalmente, por três vezes, à medida que progrediam os conhecimentos da Antropologia, Biologia e Genética.

Na última destas convenções, a de 1965, foi finalmente declarado que “ as doutrinas da superioridade fundada nas diferenças entre as raças são cientificamente falsas, moralmente condenáveis e socialmente injustas e perigosas, nada podendo justificar, onde quer que seja, a discriminação racial, nem em teoria nem na prática”.

Os novos racismos

Decorrido meio século sobre estas declarações, quando as investigações sobre o ADN humano provam agora à evidência que as diferenças entre seres humanos são tão diminutas que não pode mesmo sequer falar-se em raças, persiste o desencontro entre os posicionamentos científicos e o senso comum.
O racismo à nossa volta

Na última década foram efectuados dois importantes inquéritos, um pelo jornal Público e outro pelo Expresso. Os resultados foram algo curiosos e também preocupantes: 43% dos portugueses consideram que as atitudes racistas são muito comuns; 18% dos inquiridos brancos achavam que os negros eram “intelectualmente menos dotados”; 21% não dariam um cargo de responsabilidade a um negro e quase 60% declarou que se oporia a que uma filha se casasse com um cigano.

A uma aparente melhoria de atitude pessoal em relação ao racismo de “cor da pele” vêm agora juntar-se uma nova e infindável série de “racismos” de índole cultural, nacional e até de nível económico. Cercam-nos e aliciam-nos por todos os lados, corroendo as nossas defesas ao apresentarem-se com roupagens politicamente correctas e liberais.
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Apetece reler um pouco da mensagem do Cardeal R. Etchegarray, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, na sessão preparatória da Conferência Mundial Sobre o Racismo, em Genéve, Agosto de 2001:
“O racismo constitui uma chaga que permanece misteriosamente aberta no flanco da Humanidade. Diante da sua propagação e da sua banalização, o anti-racismo do passado parece ser pouco adequado no presente e tem necessidade de renovar as suas argumentações e por vezes, mudar mesmo de meta. A noção de racismo deve ser usada de forma delicada, classificando sob a sua rubrica todas as espécies de comportamento de desigualdade. Esta batalha, que é como uma guerra de corrosão, é sem dúvida o mais árduo de todos os combates em favor dos direitos do Homem.”.

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