quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Felizmente irresponsáveis !!!

      

                    Todos os dias, ingénuo, me inquieto por um momento para logo a seguir respirar aliviado, quando percebo que o que por aqui se opina da maneira mais desbragada, felizmente é da mais total inconsequência e não passa de saudável catarse aquietadora de consciências e escape para sonhados e nunca cumpridos devaneios juvenis, mas que, tal como a sagrada confissão ao senhor prior, só interessa à alma do confessado e ao ego do arengador.

Veio este arrazoado introdutório a propósito do espanto que sempre me percorre quando, a cada passo tropeço com as posições de gente que é evidentemente honesta, que ao longo da vida sempre honrou compromissos, pagou o que comprou e hoje não deve nada a ninguém, mas que quando toca às dívidas colectivas, logo saltam como mordidos nas nalgas por peçonhento lacrau, uns em fúria, outros mais enquadrados por argutos argumentos político-filosóficos, mas basicamente a dizerem o mesmo: “Não pagamos”, “a dívida não é nossa” “ a culpa da dívida foi de quem nos governou”, etc., esquecendo que aceitámos os políticos que nos puseram a viver a crédito, que gostámos todos de viver à europeia e trabalhar à marroquino, que fomos assobiando para o lado e correndo com toda a gente (reacionária!!) que se atreveu  a chamar-nos a atenção para o inevitável desenlace, que nos últimos 35 anos, TODOS os governos foram da exclusiva responsabilidade do povo que os escolheu e que, mesmo antes, qualquer governo, mesmo ditatorial, representa e é da responsabilidade do povo que, apesar de o não ter escolhido, o tolera.

Há até, e estou a falar de gente culta e na plena posse das suas faculdades, quem afirme que a culpa das nossas dívidas é de quem nos emprestou o dinheiro, o que, visto ao contrário, até é, do ponto de vista de La Palisse, perfeitamente verdade: se os mercados, ou os bancos, não nos tivessem emprestado o que lhes pedimos, não teríamos ficado endividados… do mesmo modo que, de facto, o verdadeiro responsável pelos suicídios com comprimidos são as tenebrosas multinacionais farmacêuticas que os fabricou e pôs à disposição dos incautos suicidas.
Mas felizmente que tudo isto se vai passando nos blogs e Facebook, as Yellow Brick Roads de faz-de-conta dos nossos palcos e tribunas virtuais, quais oradores em cima de caixote, a salvar o mundo no Speakers Corner, lá em Hyde Park.

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