quarta-feira, 8 de julho de 2009

The Dark Side of the Loon

Tenho para mim uma máxima interessante e que aplico de vez em quando: As pessoas inteligentes discutem ideias, as medianas discutem factos e as outras falam da vida das outras.

Com a vulgarização da internet assiste-se a uma partilha de informação quase em tempo real que nos permite ter acesso a um número infinito de ideias, conhecimentos e de factos.
Mais, a internet permite que criemos pequenas “second lives” onde nos movemos e cujas regras podem ser criadas e recriadas por nós, como é o caso dos Blogues.

Assim, e no contexto da máxima referida, com a internet as pessoas inteligentes continuam a discutir ideias com a vantagem de as poder partilhar com muito mais pessoas, as pessoas médias podem discutir muitos mais factos porque vão buscar muito mais informação e as outras continuam a falar da vida das outras… E aqui é que se geram as confusões.

Falando dos blogues de cozinha…

Temos os blogues feitos por profissionais ou amadores esclarecidos que gostam de cozinha e gostam de partilhar as suas experiências “tout court”, sem trazer mal algum ao mundo.
Temos também os blogues “certinhos” – celulazinhas cinzentas, sempre atentas – que num modo de “autoplay” vão ajudando as pessoas a fazer o jantar.
Por fim, os outros blogues, essa imensa maioria que apenas não move um qualquer mundo porque ainda não encontrou nesse mundo um fulcro para pousar a alavanca. Esses blogues não partilham ideias (aparecem despidos desse atributo) nem ajudam a fazer um qualquer jantar (pelo contrário, ajudam e muito a perder o apetite).
Apresentam jantares… e almoços… e pequenos-almoços… e lanches… e idas à casa de banho… e o furúnculo que se tirou ontem porque estava a incomodar, para não falar da festa da comunhão da criancinha ou da flor que nasceu no jardim ou ainda do robot que vai passar a fazer o jantar.

Estes blogues e o seu conteúdo não são mais que o produto de uma qualquer conversa de um grupo alargado de pessoas ociosas que até se formatam para socializar virtualmente e reproduzir “ad nauseum” o que as mães guardavam num caderno de apontamentos e num livro de cozinha.

Basicamente plasmam o que Pierre Boulle escreve no seu “O planeta dos macacos”:
“O que caracteriza uma civilização? É o génio excepcional? Não; é a vida de todos os dias… (…) Mas tendo sido escrito um livro original – nunca há mais de um ou dois por século – os macacos imitam-no, isto é, recopiam-no, de maneira que são publicadas centenas de milhares de obras tratando exactamente dos mesmos assuntos, com títulos um pouco diferentes e combinações de frases modificadas.”

O que há anos não passava de uma tímida conversa à mesa que acabava com uma troca de receitas para fazer “aquela” sobremesa ou aquele saboroso assado transformou-se, pela blogosfera, num desfile pornográfico de sopinhas, sobremesazinhas, bolinhos e coisinhas, com a assistência a clamar por uma fatiazinha ou por um bocadinho, apesar de não ser sequer hora do almoço e depois a balança reclamar, ao ponto de inviabilizar o uso de biquíni nos próximos cinco anos, mesmo que se ande a água o resto do ano.

E uma página é mesmo o limite que se pode escrever sem correr o risco do resto do texto se perder com a abertura de uma nova janela… Onde se fala de bolos feitos com coca cola, mas parece que com isostar é melhor, mas eu fiz com sumol porque a fanta me faz gases e não tinha frissumo na despensa, mas tirava uma fatia e levava a outra para casa para dar ao papagaio.

Viva a blogosfera… E já agora, a patetice.

A. Cupido

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