sexta-feira, 30 de março de 2012

A Democracia e o Sermão da Montanha




                   A democracia tem as costas largas e à conta de ser usada e invocada à boca cheia, seja para se queixar à TVI, aos gritos, que já está há duas horas na urgência, seja para imprecar contra a falta da pena de morte para o “rei gob” ( devia era ser capado, esfregado com mel e atirado às formigas, vivo!), seja na boca de gente que tem da democracia a ideia que é um direito democrático ignorar as escolhas democráticas em urna, quando os resultados não são a seu contento, o certo é que, hoje, a boa da democracia é sapato que serve em todo o pé.

A esquerda em particular, não sei se para atirar poeira para os olhos incautos, se por pura burrice ou amnésia ideológica, é a campeã proclamada da democracia, embora aquilo a que chamam democracia mais pareça um aleijão, tão aleijão que consegue, em nome da sua, também auto-proclamada superioridade moral, ignorar os princípios mais básicos, os fundamentos da própria democracia, o primado da maioria, a aceitação pela minoria da vontade expressa em urna, o princípio de uma pessoa, um voto, a representação sem votos de qualidade ou esclarecidos.
Excepto a social-democracia, de que infelizmente, não há representantes em Portugal, toda a demais esquerda provém de uma base ideológica para a qual a democracia parlamentar e eleições livres, ao impedirem o exercício do direito histórico de domínio de uma classe sobre todas as outras, são “farsas eleitorais burguesas”.
É esta esquerda malsã que, apoiada por um português e meio em cada dez, mais uma vez em nome da democracia, se acha no direito de pedir a queda do governo que o povo elegeu livremente e que continua a apoiar,  dizem as sondagens,   apesar das medidas que o castigam.
Ai da democracia, quando assim manobrada pela vontade “iluminada” de tais intérpretes!
E, porque a analogia é por demais evidente, não posso deixar de pensar nesse texto fundamental e “maldito” do cristianismo, aquilo a que hoje se poderia chamar “Cristianismo essencial, para Totós”, o célebre Sermão da Montanha (Mateus, cap.5-7).
 Este é, simultaneamente, uma súmula ideológica precisa, dita na primeira pessoa, pelo próprio fundador ( o próprio Deus, segundo a crença proclamada pelos seguidores), daquilo que deveria ser o cristianismo e também, por outro lado, a antítese daquilo em que esse mesmo cristianismo se tornou, até hoje.
Alguém, logo a seguir, tratou de pôr o cristianismo na “gaveta” (Santo Agostinho, S. Tomás de Aquino) e moldar a “maldita coisa” a seu jeito e foi para expurgar a Igreja dos “heréticos” seguidores do Sermão da Montanha que se fez a Santa Inquisição.
Do mesmo modo, ardem hoje nas fogueiras da santa inquisição do politicamente correcto, da “democracia” formatada à esquerda, todos aqueles que têm o supremo atrevimento de lembrar ao orgulho dessas elites intelectuais que se acham democratas e de esquerda e que odeiam esse cheirinho a povo rasteiro e ignorante que são os resultados eleitorais, que esse é o aroma da Democracia.