sábado, 25 de julho de 2009

Perfilados de Medo


Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
a vida sem viver é mais segura.

Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.

Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.

Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido…

Alexandre O'Neill (soneto dedicado ao General Humberto Delgado)

Luís Pontes

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Os Bunkers


"As grades do condomínio
São prá trazer proteção
Mas também trazem a dúvida
Se é você que tá nessa
Prisão..."
(Minha alma - O Rappa)
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Quando eu era puto a gente vivia junta!
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No prédio da minha infância, em Lisboa, os vizinhos eram díspares em classe social e económica mas nem por isso deixavam de ser vizinhos: no terceiro andar vivia um Secretário de Estado de qualquer coisa do governo de Salazar, vinham buscá-lo de manhã num carro preto com chauffeur fardado; no meu andar havia a nossa família, típica classe média assalariada, e uma casa onde viviam pessoas que vinham da provìncia, em quartos sub-alugados, no rés-do-chão um dono de drogaria de bairro e um vendedor ambulante de fruta.
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E não era estranho!
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No prédio ao lado vivia o então Governador da Guiné e quando eu chegava à escola primária lá estava o Prof. Hermano Saraiva, então ministro da educação, que vinha a pé desde casa, no bairro social, e ia tomar a bica aos "Gelados Chile" antes de seguir para o ministério.
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Quando eu era puto não havia condomínios fechados nem guettos!
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À tarde a gente miúda do prédio brincava no quintal comum e a Isabel, filha do governante, comia pão com manteiga ao lanche, como a Adelaide, neta do homem-da-fruta e o Julinho, filho do droguista de bairro.
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As classes sociais existiam mas também coexistiam, nem que fosse na partilha do espaço físico da residência, no pleno exercício da utopia urbana, que afirma a cidade como “espaço primeiro dos encontros, do ajuntamento enquanto festa".
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Após a revolução de Abril e o subsequente êxodo massivo das populações dos campos para as grandes metrópoles, a desproletarização e crescimento exponencial da classe média sem outros valores que não os do vácuo novo-rico, criou um fetichismo da ostentação e da propriedade privada bem como uma predominância exacerbada e sempre crescente dos aspectos económicos na sociedade.
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A negação da igualdade, afirmação do exibicionismo novo-rico, valor essencial da classe média, expressa-se pela crescente concentração de rendimento nas mãos de pequenos grupos, gerando uma marcada diferenciação entre os que tudo têm e os demais, a quem nem sequer resta espaço para existir dentro da cidade.
Para uma grande parcela destes últimos resta como perspectiva a tentativa de sobrevivência em pobreza ou mesmo miséria, ou o envolvimento em esquemas de acentuada violência, onde a vida se torna coisa sem valor.
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Nascem os bairros-campos-de-concentração: os guettos!
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Rapidamente, a cidade torna-se protagonista da distopia urbana.
Os inimigos cruzam os muros e, num quadro de extrema desigualdade sócio-político-cultural, urge a criação de muros dentro de muros.
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Assim, o medo das cidades caóticas, abarrotadas das classes "perigosas", leva os segmentos sociais de maior rendimento a fugirem dos espaços públicos convencionais, produzindo enclaves fortificados e profundamente exclusivos, para o seu trabalho, residência, lazer e consumo, gerando assim novas modalidades de exclusão, sendo
os espaços públicos abandonados à sua própria desintegração em zonas bem determinadas na cidade e no seu crescente subúrbio.
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Real ou imaginado, este medo do crime é freqüentemente entrelaçado com preconceitos de classe, ansiedades raciais e racistas, noções estereotipadas do pobre, do marginalizado, do preto, do cigano, para gerar construções ideológicas híbridas, sancionando um novo padrão de segregação espacial e discriminação social, o condomínio fechado, a cidade de muros e de bunkers, a arquitectura do medo!

Luís Pontes

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Racismo afinal 1

O racismo mais boçal e conhecido, o que baseia a sua argumentação em questões físicas como a cor da pele, é um fenómeno recente em termos históricos, coincidindo o seu aparecimento, grosso modo, com a vitória das teorias abolicionistas no Sec. XIX.
De facto, até esta altura e desde a antiguidade, as diferenças eram de condição e estabeleciam a discriminação entre grupos de acordo com critérios não-rácicos: nobreza/povo, livre/escravo, fiel/infiel, rico/pobre.

Só em 1854, com Gobineau, e depois em 1899 com Chamberlain, se teorizou finalmente a questão da superioridade da raça ariana sobre todas as ditas inferiores e degeneradas. Estas teorias, desenvolvidas na prática por Adolf Hitler e outros teóricos da superioridade da raça germânica, deram origem, além da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto a regimes como o do apartheid Sul-Africano, vergonha que haveria de manter-se até 1994.

Hoje, se é verdade que, em quase todos os países civilizados existe legislação anti-racista apertada, não é menos verdade que a prática continua a ser de uma vergonhosa discriminação no que respeita a oportunidades de acesso a educação, habitação, emprego, etc. e a uma guetização das minorias em desolados bairros periféricos, “barris de pólvora” que, mais tarde ou mais cedo, explodirão na cara de quem os formou.

Quanto a nós, brancos, civilizados e profundamente anti-racistas, vamos dormindo calmamente após as últimas notícias das escaramuças nos bairros “problemáticos”, afinal contentes quando a ASAE, que intimamente detestamos, descobre umas baratas na cozinha de um restaurante chinês ou apreende umas Lacostes contrafeitas numa feira de ciganos.
Antes, numa voltinha pela Net, recebemos e reenviámos aos nossos contactos, algum “aviso” chocante como este, que quase toda a gente recebeu, o dos ratos que seriam servidos nos restaurantes chineses, como frango!

É que, agora, já não se pode gritar um qualquer “morte à escumalha amarela”, até dá prisão! Não, agora o racismo ataca suave, com um sorriso, insidioso, buscando o que em cada um de nós há de mais primário, despertando emoções e preconceito.

No Sudoeste Asiático, os ratos do campo fazem parte da dieta de todos os dias, sendo até considerados iguaria.

Com fotos retiradas de um site de promoção turística tailandesa e uma legendagem habilidosa, faz-se um ataque subliminar à comunidade chinesa em Portugal, contando com a credulidade de quem o vê e, chocado, o difunde.


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Luís Pontes

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Dido e Eneias

Aplausos!

Tempos houve em que os artistas viviam dos aplausos. Os que eram bem pagos chegavam mesmo a dizer que uma plateia de pé valia mais que mil cachets, o que era evidentemente um exagero mas que retratava essa relação sinérgica artista/público, ao mesmo tempo de encorajamento, reconhecimento e medida do trabalho apresentado.
Evidentemente que havia também que contar com a possibilidade de silêncio, assobios ou pateada, a mais terrível das provações em palco, nesses dias em que tudo parecia correr mal.

Era deste balancear que era feita a vida de quem fazia do palco a sua vida, fosse em música, dança, teatro ou qualquer outra intervenção performativa. Era o momento da verdade, independente da crítica profissional, o momento mágico em que o público que quis pagar o seu bilhete fazia a sua crítica, a única que realmente importava.

Porque este momento era realmente único para quem se apresentava e para quem se pronunciava, obedecia a um bem estabelecido código que transformava o momento do aplauso num diálogo estruturado e participante.

Numa coreografia perfeita em que todos sabiam o seu lugar e papel, havia as palmas, o primeiro e segundo agradecimentos, as palmas ritmadas a pedir “encore”, as distinções especiais das chamadas, o aplaudir de pé, os “bravo”, os assobios, a pateada, a saída com o artista em palco, etc. Tudo ficava dito, tudo era explicitado!

Infelizmente, há alguns anos, os aplausos passaram, eles próprios, a fazer parte de uma outra coreografia mais vasta e perfeitamente controlada pelas produções dos espectáculos veiculados pela soberana televisão, onde o público é pago como figurante do show e a quem são ordenadas a cada momento as reacções que serão vistas pelo telespectador, assim conduzido e enganado.

Esta suprema perversão da relação artista-público, para mais num meio que é, gostemos ou não, o grande educador de massas, tornou o comportamento do público, quando se desloca a espectáculos ao vivo, uma caricatura obscena de incoerência a raiar a insanidade. Agora aplaude-se sempre! Agora aplaude-se sempre de pé, por muito tempo, até o artista voltar para o “encore” já sabiamente reservado para o efeito.
Também se aplaude tudo o que acontece em palco, desde qualquer apresentação prévia, entrada de músicos, apagar das luzes, o fim de uma ária, de um andamento, um solo mais popular como se de uma jam session se tratasse, todas as vezes que o palco escurece a partir de uma hora depois do início, originando cenas verdadeiramente constrangedoras com o artista a debitar o resto da peça no meio dos aplausos frenéticos ou, como já vi, suprema delicadeza ou ironia, dar o espectáculo por terminado, quase meia hora antes do seu verdadeiro fim… para não envergonhar o público!

Vi há dias no largo do S. Carlos, integrado numa iniciativa de animação cultural das noites lisboetas, o Festival ao Largo, uma apresentação da ópera de Henry Purcell, Dido e Eneias, encenada por Carlos Avilez e interpretada por alunos do Atelier de ópera e do Coro de Câmara da Escola de Música do Conservatório Nacional, o Grupo de Bailados Canora Turba e elementos da Orquestra Sinfónica Portuguesa.
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.............................. Foto de Ricardo Brito, publicada aqui
Não irei delongar-me em crítica operática, para a qual não tenho competência, mas deixo como nota que foi um espectáculo desigual e geralmente fraco.
Uma encenação à pressa que produziu um espectáculo de colagens estáticas, uma cenografia e um figurino dignos de festa de natal de escola secundária, um grupo de bailado displicente e com ar de estar a aviar farinheiras para despachar, os jovens cantores a evidenciarem uma inexperiência que nisto de canto lírico se paga muito caro, por fim o coro e músicos a excelente nível mas que não chega para salvar o que ali se viu.
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O espectáculo era gratuito mas eu sou dos que não acho que o facto de algo ser dado desculpe questões de qualidade.
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........................ Foto de Ricardo Brito, publicada aqui
À morte da Dido, preparava-me para um simples aplauso de circunstância, não se deve desencorajar quem está a dar os primeiros passos, ainda incertos, quando fui literalmente submerso por uma turba impelida por alguma invisível mola nos traseiros, a saltar em aplausos frenéticos, de pé um segundo após o final, gritando bravos e assobiando como num concerto de rock. Espantoso!
Fugi! Fugi profundamente envergonhado e humilhado por ter feito parte, mesmo por segundos, da turba anónima e entusiasmada.

Já vinha no Corpo Santo e ainda se ouviam os ecos da apoteose!
Luís Pontes

quarta-feira, 8 de julho de 2009

The Dark Side of the Loon

Tenho para mim uma máxima interessante e que aplico de vez em quando: As pessoas inteligentes discutem ideias, as medianas discutem factos e as outras falam da vida das outras.

Com a vulgarização da internet assiste-se a uma partilha de informação quase em tempo real que nos permite ter acesso a um número infinito de ideias, conhecimentos e de factos.
Mais, a internet permite que criemos pequenas “second lives” onde nos movemos e cujas regras podem ser criadas e recriadas por nós, como é o caso dos Blogues.

Assim, e no contexto da máxima referida, com a internet as pessoas inteligentes continuam a discutir ideias com a vantagem de as poder partilhar com muito mais pessoas, as pessoas médias podem discutir muitos mais factos porque vão buscar muito mais informação e as outras continuam a falar da vida das outras… E aqui é que se geram as confusões.

Falando dos blogues de cozinha…

Temos os blogues feitos por profissionais ou amadores esclarecidos que gostam de cozinha e gostam de partilhar as suas experiências “tout court”, sem trazer mal algum ao mundo.
Temos também os blogues “certinhos” – celulazinhas cinzentas, sempre atentas – que num modo de “autoplay” vão ajudando as pessoas a fazer o jantar.
Por fim, os outros blogues, essa imensa maioria que apenas não move um qualquer mundo porque ainda não encontrou nesse mundo um fulcro para pousar a alavanca. Esses blogues não partilham ideias (aparecem despidos desse atributo) nem ajudam a fazer um qualquer jantar (pelo contrário, ajudam e muito a perder o apetite).
Apresentam jantares… e almoços… e pequenos-almoços… e lanches… e idas à casa de banho… e o furúnculo que se tirou ontem porque estava a incomodar, para não falar da festa da comunhão da criancinha ou da flor que nasceu no jardim ou ainda do robot que vai passar a fazer o jantar.

Estes blogues e o seu conteúdo não são mais que o produto de uma qualquer conversa de um grupo alargado de pessoas ociosas que até se formatam para socializar virtualmente e reproduzir “ad nauseum” o que as mães guardavam num caderno de apontamentos e num livro de cozinha.

Basicamente plasmam o que Pierre Boulle escreve no seu “O planeta dos macacos”:
“O que caracteriza uma civilização? É o génio excepcional? Não; é a vida de todos os dias… (…) Mas tendo sido escrito um livro original – nunca há mais de um ou dois por século – os macacos imitam-no, isto é, recopiam-no, de maneira que são publicadas centenas de milhares de obras tratando exactamente dos mesmos assuntos, com títulos um pouco diferentes e combinações de frases modificadas.”

O que há anos não passava de uma tímida conversa à mesa que acabava com uma troca de receitas para fazer “aquela” sobremesa ou aquele saboroso assado transformou-se, pela blogosfera, num desfile pornográfico de sopinhas, sobremesazinhas, bolinhos e coisinhas, com a assistência a clamar por uma fatiazinha ou por um bocadinho, apesar de não ser sequer hora do almoço e depois a balança reclamar, ao ponto de inviabilizar o uso de biquíni nos próximos cinco anos, mesmo que se ande a água o resto do ano.

E uma página é mesmo o limite que se pode escrever sem correr o risco do resto do texto se perder com a abertura de uma nova janela… Onde se fala de bolos feitos com coca cola, mas parece que com isostar é melhor, mas eu fiz com sumol porque a fanta me faz gases e não tinha frissumo na despensa, mas tirava uma fatia e levava a outra para casa para dar ao papagaio.

Viva a blogosfera… E já agora, a patetice.

A. Cupido

terça-feira, 7 de julho de 2009

As Mortes do Nosso Contentamento!

"À Morte ninguém escapa,
nem o rei,
nem o cura,
nem o Papa!"
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Era com palavras destas que se construía a imagem reconfortante de uma morte igualitária e democrática, a suprema justiça vingadora e final que assim supria o desconfortável facto de, em vida, 1% da população mundial (incluindo nesse 1% eu e o leitor!) deterem o mesmo que 57% dos outros "irmãos", os mais desafortunados, outro eufemismo com que se alivia a consciência para a abjecta sorte da enorme maioria dos habitantes deste barco planetário em que estamos todos embarcados.
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E, no entanto, que falsidade!
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Foi precisamente a morte que veio, nestes últimos dias, definir claramente essa importante questão do Who's who, do quem é quem nesta vida e, pois claro, nesta morte, que mortes, como os chapéus, há muitas!
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A morte de um cidadão de 1ª cum laude - Michael Jackson
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A morte de alguém assim é uma festa planetária e transforma-se de imediato num chorudo negócio de milhões, ou não fossem os indigentes deste mundo, felizmente propensos a gastar os últimos tostões num qualquer merchandising alusivo à "estrela" ou rei de qualquer coisa, neste caso, dizem, da pop.
Entrevistas, tributos, programas de tv, reedições, homenagens, convites sorteados e disputados para o enterro, transmissão em directo e global! Ah! que grande homem!
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Quem não conseguiu lugar, não desespere que a festa continua por mais uns dias, pelo menos até morrer outro "rei" qualquer e certamente ainda vai aparecer na e-bay alguém que teve o discernimento de guardar em devido tempo uma fraldinha do rei-bebé, repleta de merdinha amarela, como é próprio de quem ainda só bebia leite....
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A morte de cidadãos de 1ª - O Airbus A330 da Air France
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A 1 de Junho, um vôo atribulado da Air France acabou no fundo do Atlântico com os seus 228 passageiros.
Por qualquer motivo obscuro, ou até nem tanto, este acidente aéreo em tudo igual a todos os acidentes aéreos, mobilizou à força a atenção pública durante cerca de uma semana em exclusivo, a estação de tv SIC chegou mesmo a preencher totalmente o seu Jornal de horário nobre no dia seguinte ao acidente, sem incluir qualquer outra notícia! E note-se que bem pouco se sabia sobre o acidente.
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Foi um "fartar vilanagem"!
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Afinal estavam ali todos os ingredientes para alimentar o público sedento de emoções rápidas e descartáveis: uma companhia aérea europeia e de prestígio, quase todos brancos e bonitos, um casal em lua-de-mel, um reizinho de pacotilha ainda primo do nosso glorioso congénere e também habitante das revistas cor-de-rosa, condolências entre chefes de estado, luto oficial, os habituais comandantes da TAP a dizerem umas coisas de "perito" que o "comandante" seguinte logo desdiz com o mesmo ar compenetrado e solidário, a correspondente Ivane Flora lá do Brasil a dizer mil vezes o mesmo nada choramingas, finalmente lá conseguem que o nosso rei venha dizer que afinal conhecia o primo transatlântico, homem de valor e tal, umas famílias destroçadas pela morte dos familiares e pela devassa impiedosa dos media em busca das tão apetecidas lágrimas...
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Que boas e baratas estas mortes de 1ª que fazem com que não se repare em mais nada!
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A morte de cidadãos de 2ª - O Airbus A330 da Yemenie Airlines
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A 29 de Junho, um vôo entre Marselha e Moroni, nas Comores (alguém sabe onde é isto?), acabou no fundo do Índico com 154 passageiros a bordo.
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Não havia qualquer pretendente a uma corôa a bordo nem casal em lua-de-mel.
A companhia aérea era do Yémen (alguém sabe onde é isso?) e os passageiros eram das Comores e franceses mas na realidade emigrantes, pretos e pobres, uma chatice.
Lá se deu a notícia porque o avião era igual ao glorioso de 1 mês antes e rapidamente se falou mais desse do que do avião dos pretos e pobres.
Valha-nos isso e uma miraculada pretinha sobrevivente de 14 anos a provar que Deus é grande... a menina no hospital, o pai emocionado, a mãe morta mas a menina ainda não sabe, Ah o milagre da vida desta vez, a dar notícias para preencher aqueles terríveis finais de telejornal que é preciso estender para que acabem ao mesmo tempo que o da estação concorrente.
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A morte de cidadãos de 3ª
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Nunca ouvi dizer que essa malta de 3ª (e 4ª, e 5ª) morresse!
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No outro dia falaram de 16 milhões só este ano, qualquer coisa de uma criança a cada 3 segundos, mas acho que não estavam a falar de gente mas sim de fome.
Também falaram de 3 milhões num ano mas era de malária e cinco mil e tal por dia, mas era de SIDA e toda a gente sabe que, com os retrovirais, a Sida já não mata ninguém.
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Como é que podiam ser números de gente? Se fosse assim já não havia gente no mundo, não era? Devem ser esses maluquinhos das estatísticas... e toda a gente sabe que o cérebro humano não consegue perceber números tão grandes assim.
...e depois é sempre em sítios tão esquisitos que eu acho que é tudo invenção desses jornalistas e gente que quer apanhar o nosso rico dinheirinho, que já é tão pouco!
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Nota:
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Sinta-se livre para comentar, faça o seu próprio artigo de fundo e envie como comentário ou para o meu e-mail para ser aqui publicado nesta página que é sua.
Se quiser saber mais, veja aqui, aqui e aqui.
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Luís Pontes

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Cá vamos!!!

Sendo um amante da cozinha, pensei ter encontrado na blogoesfera do tema gastronomia/culinária um espaço criativo e fecundo quando lá entrei pela primeira vez, há dois anos.
Enganei-me!
Apesar das sempre honrosas excepções, que as há, vive-se ali num ambiente de gineceu conservador e politicamente correcto, com muitos salamaleques mútuos e virtuosismos culinários sobre receitas mil vezes repetidas, copiadas, recopiadas...

Que este Benzòdeus que agora se inicia, seja um espaço que inove uma abertura que vai faltando na Blogoesfera.
Que seja um fórum de confronto e discussão livres, sem peias nem censuras outras que não as dos limites da estupidez, da grosseria gratuita, dos racismos vários e do anonimato, esse vírus terrível que perpassa a blogosfera de modo transversal numa onda de infantilismo irresponsável e tonto.
Aqui pode-se transgredir mas não esconder, ousar mas não acobardar, denunciar mas não delatar, pseudónimos não!

Que este benzòdeus seja um sítio para gente que dá a cara pelo que diz e como diz, sem medo e com assinatura! Para homens e mulheres sem medo.

Conto convosco!

Luís Pontes